domingo, 1 de junho de 2008

11ª aula (4/6)

Sumário:
- um 'spin doctor' a sério
- visionamento do último episódio de 'Os Homens do Presidente' a ter em conta para a avaliação

[recordo que deverão apresentar durante o dia 11 os vossos trabalhos sobre Os Homens do Presidente; poderão fazê-lo na aula ou durante o dia, via e-mail; se pretenderem poderão aproveitar a próxima aula para esclarecer dúvidas sobre questões relacionadas com a construção do trabalho online]

[nota prévia: aparecem duas formas de escrever o apelido, Rove e Rowe; a primeira é que está certa]

Semelhanças estruturais com exemplos anteriores (abordagem genérica ao 'spinning'):
- discreto;
- o lugar que ocupa na hierarquia ou o nome que a sua função tem não correspondem à sua função como manipulador da realidade (função desregulamentada);
- não há atribuição directa entre a pessoa e o que acontece. Porquê? Porque muitas dessas actividades são ilegais ou, pelo menos, eticamente reprováveis; pensa-se que provavelmente são eles que fazem…
- especialistas em criar «manobras de diversão» (aquelas que desviam as atenções de algo indesejável ou aquelas que levam a opinião a «acreditar» em);
- acesso directo ao poder e relação de extrema confiança com esse poder;
- quebrar regras;
- «vale tudo»;
- conhecer os meandros da comunicação, da política e do marketing;
- criar/seleccionar as mensagens que o protagonista vai difundir depois.

No caso de Karl Rove:
De acordo com o livro e documentário “Bush’s brain”:
- G.W.B. é presidente por causa de KR
- é uma espécie de "primeiro ministro"
– mas não se sabe EFECTIVAMENTE o que faz (apenas que há uma marca de Rowe);~
- co-presidente, tal o seu poder…
- oficialmente era consultor político de GWB e foi director de campanha

Sobre o seu trabalho (sendo que nada disto é definitivo, pelas razões apontadas anteriormente e porque a história não se faz no presente):
- “sujo”, controlo dos acontecimentos, manipulação, campanhas negativas, destruir opositores;
- não há regra que ele não quebre para ajudar o seu candidato;
- sabotagem dos adversários;
- invisível (sabe-se que existe mas não se sabe directamente o que faz, raramente aparece);
- convenceu GWB de que ele poderia ser presidente, se fosse governador do Texas;
- quando representa um candidato está encarregado de tudo;
- nunca assume (alguns dos casos são crimes);
- utilização de fugas selectivas de informação;
- inventou a guerra do Iraque por razões políticas

As suas características:
- GWB tem total confiança nele;
- pertence ao seu círculo íntimo;
- tem muito poder (embora invisível);
- o seu currículo está cheio de casos de sabotagem;
- muito esperto, com formação política (republicana);
- Há mais de 20 anos que trabalha com a família Bush;

Algumas citações:
- «Rove é mais do que um conselheiro. Para vários biógrafos e comentadores, ele é “o cérebro de Bush”
- «Para as eleições de Novembro, os republicanos estão em desvantagem: a popularidade do presidente está de rastos, a guerra no Iraque é impopular, a credibilidade dos políticos é mínima»
- «Se fosse líder partidário, e por muito que estivesse em dificuldades, convocaria Karl Rove para dirigir a campanha eleitoral, mesmo que à distância e por videoconferência. Era vitória certa. Cem vezes melhor do que Carville, e outros «gurus» de campanha, Rove foi o verdadeiro catalisador da vitória de Bush, ou antes, da estrondosa derrota de Kerry, que partiu para as presidenciais com uma vantagem assinalável. Como? As tácticas de Rove são simples, mas de uma eficácia imbatível concentrar tudo numa mensagem - no caso era quem estava melhor preparado para enfrentar o terrorismo? - mostrar que o adversário não tinha um programa coerente nem uma linha eficaz de pensamento (Kerry tanto criticava que se esquecia de explicar o que iria mudar), e inundar os meios de comunicação com iniciativas e agendas repletas de novidades. Para além de tudo isto, Rove dirigia a mais completa e extraordinária equipa de spin doctors, que actuava 24 horas por dia para preencher os espaços informativos da panóplia de meios americanos. Nada ficava sem resposta, nem uma só ideia e iniciativa do adversário deixava de ser desmontada, avaliada e, se necessário (só possível em países onde a publicidade política é legal), ridicularizada. Duro, intransigente e autoritário, Rove levou Bush de uma posição de dez a 15 pontos de desvantagem em relação a Kerry a uma vitória impensável com três milhões e meio de votos a mais do que o candidato democrata. Por mim, contratava Karl Rove.» (Luis Delgado, DN, 21/12/04)

É spin doctor?
Sim, porque a actividade deve ser vista de uma forma ampla e não estrita (não se é contratado como tal, há sempre outros nomes…);
é-se ‘spin doctor’ quando se manipula a realidade, quando se criam manobras de diversão, quando se sabota os adversários (e neste caso até se juntam outras características: não há atribuição directa aos actos e um forte ascendente sobre o poder);
Aqui a dificuldade é saber em concreto o que é que faz ou não. Mas KR é um dos grandes mistérios da política interna norte-americana – e essa é uma das características do SD

UM caso que correu mal:
Quando um enviado dos EUA não confirmou a versão oficial do governo, sobre a venda de urânio ao Iraque, Karl Rove (provou-se depois), denunciou aos jornalistas que a mulher desse enviado era da CIA (uma espia…). Foi obrigado a demitir-se.
E esse caso suscitou uma série de outras acusações anteriores a Karl Rove… «as proezas de Karl Rove, a favor de candidatos republicanos, foram mantidas num estilo baixo de guerra sem quartel. Em 1970, roubou papel dum gabinete do candidato rival e enviou mais de mil cartas falsas em seu nome. Em 19856, numa renhida campanha para governador do Texas, Rove clamou ter encontrado um microfone camuflado no seu gabinete. O fiscal suspeitou que foi o próprio Rove quem o instalou, mas a investigação nunca o provou (o jovem tinha génio e amigos nas altas esferas). Em 2000, durante as cruciais eleições primárias na Carolina do Sul, Rove destruiu John McCain, para assegurar a nomeação de Bush»

TRAÇOS comuns:
- manipulação da realidade, principalmente através da comunicação social;
- ganhar eleições para manter/alcançar o poder;
- sabotagem dos adversários;
- criação de manobras de diversão;
- o autor dessa manipulação não é conhecido (não há uma relação directa);
- função não existe e é desempenhada quer pontualmente (crises) quer por colaboradores permanentes

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