Sumário:
- correcção e notas sobre o exercício da aula anterior
- o marketing político e o marketing eleitoral (os soundbites e as sondagens/estudos de opinião)
- visionamento de mais um episódio de Os Homens do Presidente
NOTAS sobre o exercício prático da aula anterior:
- Para além da necessidade de transparência e verdade, devemos entender a crise não como uma desgraça mas como uma oportunidade; primeiro porque se pensarmos como uma desgraça, provavelmente será o mesmo (o fim...) e depois porque podemos potenciar os 'holofotes' para passar uma imagem positiva e 'dar a volta'. Não esquecer - como em todas as estratégias - quem é o público que interessa ao 'cliente': o Intermarchá não fala para a Coca Cola nem para a ASAE, mas para os seus clientes!
FOI EXPLICADO ISTO A TODOS OS ALUNOS; o que fizeram os alunos:
- assumiram o erro e pediram desculpa (transparência, mas sem grande 'oportunidade'; até porque se corre o risco de se pensar que não continuarão a praticar preços baixos)
- assumiram a estratégia que é a de oferecer preços baixos e assim continuar a fazer (por compromisso com o cliente, por imagem de marca da empresa, em resultado de estudos de mercado (4); anunciando uma nova marca no mercado)
- explicaram que por trás dos 19 centimos havia outro objectivo POSITIVO (reciclagem e meio ambiente; responsabilidade social para com solidariedade social)
- soluções mal 'encaixadas': o prazo das latas em stock estava a acabar e decidiram apressar a sua venda (NEGATIVO); colocar a palavra 'erro' no título;
NOTA FINAL: alguns press releases estão escritos como se tivessem sido feitos por jornalistas; um press release só é 'jornalistico' no sentido da sua construção, não do conteúdo; nesses PR mal executados, a posição do Intermarché não é a abertura (lead) nem título. Teria de ser. E não o contexto (quase neutro) do caso.
O marketing político:1) A área de actividade onde há mais complexidade e mais perigo de manipulação (atenção ao sentido da palavra) é a política; é na política que as estratégias de comunicação se sofisticam a ponto de se poder dizer que “muitas vezes” vale tudo; porquê:
- a política é temporária (há eleições regularmente e há que prestar contas: um cantor/pintor ou um empresário podem passar sem dar uma entrevista mas um politico não) e precária (lugares de nomeação, entra e sai);
- as eleições jogam-se muito na opinião pública;
- a política controla e condiciona as nossas vidas (vital no sistema democrático);
A conjugação destas três razões (entre outras) faz com que a luta pelo poder politico seja terrível;
2)
Não se ganham eleições sem marketing politico, porque numa verdadeira democracia não se ganham eleições sem campanhas eleitorais (e uma campanha eleitoral é uma orgia de marketing politico, duas ou três semanas em que tudo se pode decidir; há quem diga que a campanha começa no dia seguinte às eleições). Há casos de políticos com grande popularidade que quase não precisam de campanha eleitoral, mas são uma excepção e às vezes corre mal (Fernando Gomes – Porto). Não admira que o marketing tenha chegado à política, como conjunto de técnicas que, postas ao serviço de uma figura, lhe vão/podem dar popularidade, simpatia, votos.
3) Distinguir marketing eleitoral e marketing político
4) O Marketing politico (ou melhor, as estratégias de marketing politico) usa fundamentalmente quatro áreas do marketing (das muitas que tem ao dispor):
-estudos de opinião (
sondagens, focus group), para preparar as mensagens e testá-las antes e durante a campanha;
- publicidade/propaganda/merchandising (publicidade, cartazes, isqueiros, paginas na internet),
- marketing directo (o porta a porta do proprio candidato, arruadas, os comícios – tudo o que envolva contacto directo);
- e relações públicas/assessoria de imprensa (tudo o que pressuponha a intermediação feita através de jornalistas: entrevistas, declarações programadas, reacções, “fugas” de informação, exclusivos; o
soundbite - como desenvolvimento dos pseudo-eventos);
5) O soundbite é uma forma de manipulação da opinião pública muito simples e eficaz: é, na linha da definição da estratégia de comunicação, quando se pensa nas palavras chave, e se seleccionam as
ideias-chave, concretizar algumas palavras que sabe que vão directas ao coração do jornalista/da opinião pública (o soundbite é mais do que um slogan, é a artificialização do discurso, da ideia à sua mínima expressão para prender a atenção dos jornalistas - algumas palavras resultam em cheio,
embora por vezes se confundam). «
Politicians of the new generation are carefully coached by their spin doctors to produce on demand soundbites which are clear and to the point.»Ligação: como fazer um soundbite:
http://www.aim.org/media_monitor/4252_0_2_0_C/- «
Paulo Portas, op senhor soundbite»Uma característica do soundbite: é cada vez mais curto! «
The average sound bite of a presidential candidate on network news shrank from 42 seconds in 1968 to 7.8 seconds in 2000»
6) O marketing politico moderno em Portugal apareceu apenas depois da Revolução de 1974; ao longo dos séculos há imensos casos em que a oratória e a retórica eram usadas para convencer (demagogos); e sabe-se como por exemplo a rádio foi usada por Hitler ou Churchil; mas só com a institucionalização da democracia (no pós-guerra), a actividade passou a ser profissional (a condição-base é que haja eleições democráticas e justas e que seja preciso ganhá-las; o mesmo é dizer, que seja o povo a ganhá-las) ;
7)
SONDAGENS: Por ser ainda recente e pressupor alguma mudança de mentalidades, há ainda políticos que desvalorizam (sobretudo por ignorância e/ou preconceito) o valor das sondagens (como ouvimos, no ano passado, Luís Paixão Martins e recentemente Custódio Oliveira, Sócrates e Fernando Gomes não são desses políticos);
As sondagens são a ÚNICA forma de consultar antes das eleições o próprio povo; uma boa sondagem depende da construção do questionário, da constituição da amostra e do rigor (honestidade) da interpretação dos resultados;
Existem três formas de fazer sondagens:
- telefonicamente (as mais baratas e também erróneas), as presenciais (com voto em urna ou questionário) e o focus group (as mais caras, mas provavelmente as mais acertadas, se o grupo tiver sido bem constituído; pouco usado em caso de votações políticas); muitas vezes podem conjugar-se duas ou mesmo as três formas;
- governar por sondagens é uma expressão que se ouve muito em Portugal e que denuncia alguns equívocos que precisam de ser esclarecidos (correspondentes a uma certa mentalidade);
8) Tratar da imagem significa que alguém (o assessor ou o estratega) tem uma visão global (como no corporate image das empresas) desse protagonista; desde a forma como fala e o que diz à maneira como se veste, mexe as mãos ou onde vai (ter uma coerência global – para ajudar a criar uma determinada reputação; Cavaco autoritário/firme; Guterres, humanista/coração/diálogo); Os dentes de Paulo Portas.
9)
A FORÇA DO MARKETING POLITICO: Pode o marketing político inventar/criar uma personagem diferente? Pode, embora se o candidato for mau isso acabe por vir acima; se o candidato for bom (inteligente, carisma, expressivo), o mkt potencializa-o; se ele for mau, pode disfarçar-se, mas mais cedo ou mais tarde pode ser descoberto (são os chamados “produtos de marketing”); se ele tiver algumas qualidade pode aprender (media training); se não tiver qualidades suficientes, isso virá à superfície depois de ganhar (ou seja, em campanha é possível fabricar um candidato; depois no poder ele revelar-se-á – embora a campanha, se for desgastante, também possa ajudar a evidenciar fragilidades); Santana Lopes; Fernando Collor de Melo; Alguns casos: Aznar: cinzento, sem carisma, resultado de uma operação politica; Blair: politico dotado de carisma e capacidade para lidar com os media;
10) Algumas ideias sobre a construção de uma estratégia de Marketing Político:
- detecção das necessidades (gerais ou concretas; especificas a um determinado publico-alvo)
- escolher com o candidato os temas e as mensagens-chave (traduzidas pelo candidato em sound bites – frases curtas e acutilantes que serão manchetes na comunicação social); os grafismos, os suportes; como vão aparecer em público, os timings da comunicação, óculos (inteligente/antipatico); as cores mais atractivas, o cabelo, a voz, a posição do corpo, a forma como falam (ritmo), os movimentos das mãos, os comícios/encenações, as músicas! Miterrand limou os dentes caninos, vagamente vampirescos; chamam a tudo isto a politica-espectaculo; mas há alternativa?
- as sondagens podem aparecer na fase de detecção das necessidades (saber o que é que os eleitores querem que se diga/faça) e na fase final (monitorizar o impacto do que se fez; está a resultar?); atenção: as sondagens encomendadas pelos próprios candidatos e que depois divulgadas representam quase sempre uma forma de manipulação;
Nota final: há quem não goste da expressão “marketing político” por que isso parece o mesmo que vender políticos, como produtos de grande consumo; mas não é disso que se trata?