domingo, 18 de maio de 2008

9ª aula (20/5)

Sumário: o 'spinning' da informação (caracterização); visionamento de mais um episódio de Os Homens do Presidente (nº 18 da terceira temporada, «Sentido»)

Spin doctor:
(não é fácil caracterizar, até pelas características relativamente “secretas” ou, pelo menos, informais edesregulamentadas, da função);
Ser spin doctor não é tanto um lugar para que se contrata alguém (“Precisa-se de…”), mas mais um conjunto de tarefas que fazem a função, uma função dentro do aconselhamento em marketing político; Realizando determinadas funções, reunindo determinadas características, podemos dizer que estamos perante um spin doctor. É, genericamente, uma área das relações públicas, mas sobretudo do marketing político.

Ligação recomendada: http://en.wikipedia.org/wiki/Spin_(politics)

Origem da expressão (que pode ser traduzida por mestre da manipulação):
-to spin: fazer girar, alterar, desviar a trajectoria
-quem é: ex-jornalista?ex-politico?ex-publicitário?

(tentativa de) Definição:
- é uma espécie de grau mais elevado/sofisticado de assessor de imprensa (mas já não desempenha essas funções, porque não deve contactar directamente, embora possa ter a “fachada” de assessor político, de imprensa, conselheiro, etc.)
- “alguém que tenta influenciar a opinião pública através de uma informação favoravelmente manipulada, apresentada ao publico ou aos media, com vista a ganhar, no imediato ou a mais tarde, eleições”
- explorar quais os meios mais apropriados para alcançar os objectivos dos seus partidos ou candidatos
- "consultor de tecnologia política: “a manipulação da opinião pública é uma ciência exacta; pode-se fazer ganhar qualquer candidato desde que haja dinheiro ou se apliquem os golpes (sobretudo os mais baixos) ao adversário” (VISÂO)
- o spin doctor está muito associado à ideia de crise; de resolução de problemas (que já surgiram ou vão surgir, antecipando-os…), mas não de acordo com as regras da comunicação de crise; sempre ligados à ideia de adulteração da realidade, de ‘manobras de bastidores’

Outra definição, errada, mas que vale a pena analisar: «Spin doctor/spin – Assessor de mídia ou consultor político contratado em uma campanha para garantir que o candidato receba a melhor publicidade possível em uma dada situação. Por exemplo, após um debate entre candidatos à Presidência, o spin doctor de cada candidato procura os jornalistas para mostrar-lhes os pontos fortes de seu candidato e tentar convencer a imprensa e, por extensão, o público, de que seu candidato “venceu” o debate. Quando esses assessores de mídia estão trabalhando, diz-se que estão fazendo spinning ou pondo spin (colocando efeito) em uma situação ou um evento». ESTA DEFINIÇÂO NÂO SE ENQUADRA NO ESPIRITO DEFINIDO ATÉ AGORA; ISTO NÃO É SPIN!

Mais uma definição:«A gestão das notícias por profissionais de comunicação e por agências noticiosas, tanto independentes como ligados a governos ou ministérios. A profissionalização da comunicação pública em geral.Os spin doctors* popularizaram-se no Reino Unido durante a década de 90 e estiveram especialmente associados ao apertado controlo que o novo Partido Trabalhista exerceu relativamente à sua imagem pública, antes do governo Blair, em 1997 (e subsquentemente). As artes negras da manipulação mediática eram usadas não só externamente, para controlar tanto quanto possível o fluxo, e até o estilo, da informação usada pelos jornalistas, mas também internamente, para assegurar que os próprios políticos trabalhistas permaneciam «on message» em todos os momentos.(…) Nos últimos dias de governação, o governo conservador liderado por John Major foi perseguido pela sordidez e pelo escândalo, o que contribuiu indubitavelmente para a sua derrota nas eleições de 1997. Consequentemente, o «spin» podia operar em ambos os sentidos - como manipulação oficial, para proteger o governo, e como uma vingança dos que não têm voz, para «os manter honestos».Uma das suas mais peculiares aspirações à fama provinha da afirmação de que o «spin» podia provocar a ocorrência de um acontecimento antes de ele ter acontecido. Parte da arte do «spin» consistia em usar contactos seleccionados e fugas de informação para provocar a cobertura na imprensa e na rádio ou em espectáculos televisivos antes da publicação de algo arriscado - por exemplo, um relatório crítico ou números pouco precisos sobre a economia.* termo que designa o assessor de comunicação na área política (n. da T.).”»

O que faz:
- influencia a opinião pública
- manipula (altera/constrói) a informação
- constrói a opinião (reviravoltas)
- aconselha o líder
- não é o (puro) assessor de imprensa
- inventores de imagens/ideias
- recurso a grupos de controlo (focus group)
- selecciona as ideias fundamentais, em função da opinião pública, aquelas que ela tem de saber/receber, quando e como é que; (não tanto as melhores, mas as que querem passar; geralmente até são as mais negativas)

Características:
(UMA ESPECIE DE GRELHA QUE PODEM APLICAR A DIVERSOS CASOS, mas que não é exclusivista em face das dificuldades)
- são discretos e actuam nos bastidores(o lugar que ocupam na hierarquia é irrelevante, até pode não ter ligação efectiva), a desregulamentação da actividade… muitas vezes a sua existência até é negada… NO FUNDO É O ESTRATEGA
- acesso directo ao poder (tem muito poder) e relação de confiança com esse poder;
- insensíveis à necessidade de transparência (recorre muitas vezes à “campanha negativa” ou negra)
- conhecer bem meandros da comunicação e do marketing
- não deixa impressões digitais directas (não costuma aparecer), embora se possa atribuir (isto é, não há uma atribuição directa a determinada pessoa, que apareça a reclamá-la; “isto fui eu que fiz”), talvez mais tarde isso possa acontecer mas não no momento imediato - até porque ninguem gosta de ser manipulado…
- alimentar a opinião pública através de factos políticos que são divulgados pela comunicação social (que deve controlar de alguma forma), mas também podem ter de tratar de influenciar grupos de decisão (um parlamento?)
- criar mensagens (“frases assassinas”/sound bites) e gerir informações (exclusivos)
- o político (o protagonistas que vai ser eleito) não é o spin doctor; o spin doctor é alguém que trabalha para esse político…;
- o assessor de imprensa pode ser um spin doctor? Pode, dependendo do trabalho que faz; em alguns casos, o político pode ter de dar a cara – solidariamente, e com a sua credibilidade – em defesa da estratégia de manipulação (caso de José Maria Aznar no 11/03/04)

- Poucos são aqueles que fazem apenas «spinning»; genericamente, um spin doctor gera e controla a informação a seu favor (a favor de quem lhe paga); É uma função, uma ferramenta do consultor de marketing político; só excepcionalmente, o spinning será exclusivo na função do consultor...

Frases-chave para a compreensão:
- “golpes sujos ou baixos”
- “vale tudo”
- “capaz de milagres”

Em Portugal, «O chamado spin doctor ainda é uma espécie de avis rara, geralmente chamado à laia de bombeiro, para apagar fogos, na comunicação com o eleitorado»

UM CASO: «Pouco mais de uma semana depois de ser capturada numa emboscada no deserto iraquiano, a soldado Jessica Lynch foi resgatada do hospital onde estava detida como prisioneira de guerra. Toda a ação foi capturada por sofisticadas câmeras de raios infravermelho. Dizem, um resgate audacioso, feito sob uma chuva de balas. Dizem, uma missão delicada, já que Lynch tinha vários ferimentos provocados por tiros e facadas, e teria apanhado em sessões de interrogatório. Mas agora médicos do hospital onde ocorreu a ação cinematográfica, em Nasiriya, no Iraque, estão dando sua versão da historia. Segundo reportagem da BBC em Londres, Jessica Lynch teria recebido o melhor tratamento possível enquanto esteve hospitalizada, com direito a enfermeira exclusiva para ela – tratamento VIP, considerando as condições precárias do sistema de saúde iraquiano. O médico Harith a-Houssona, que examinou a soldado, conta que ela tinha fraturas num braço e numa perna e um tornozelo deslocado – nenhum sinal de ferimento a bala, nada além do que seria considerado "normal" num acidente de carro». Ou seja, entre a versão oficial («a soldado Jessica Lynch foi capturada por soldados iraquianos após levar tiros nas costas, esfaqueada, torturada e presa em um hospital em Nasiriya. Seus bravos companheiros invadiram o hospital tomado por Fedayeen (os soldados-do-deserto) e sob cerrado fogo cruzado resgataram a militar de 19 anos. Câmeras de TV ao vivo acompanharam tudo») e aquilo que parece ser uma farsa («Jessica não foi baleada ou esfaqueada. Os médicos do hospital deram as melhores camas e enfermeiras disponíveis no local. Dois dias antes do “resgate” os médicos iraquianos tentaram levar Lynch de ambulância para os americanos, mas foram recebidos a bala em um posto de fronteira e obrigados a voltar. Um dia antes do gesgate os Fedayeen deixaram o hospital. Soldados americanos invadiram o hospital à noite, usando câmeras noturnas para transmitir o evento ao vivo para o mundo todo, encontrado médicos atônitos que ouviam balas de festim e explosões pipocando para todos os lados.») há uma grande diferença… de qualquer forma, «Pentágono nega que resgate de soldado no Iraque foi farsa» (ENQUANTO FOR POSSIVEL JOGAR COM A VERDADE DUAS VERSÕES COEXISTIRÂO)

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